Alexandre Lucas
Sim, a nossa escolha foi Portugal
Atualizado: 27 de nov. de 2019
Em 2017, estive em Portugal com minha esposa e sócia Renata Steffen. Era a quarta vez que eu visitava Lisboa e a segunda com ela. Mesmo sendo sempre um passeio interessante, daquela vez tudo estava diferente. A começar pela companhia do nosso pequeno filho Pedro, que tinha acabado de completar seu primeiro ano de vida e sequer sabia andar e falar.
Outro aspecto novo dessa viagem era o fato de que em Lisboa se encerrava uma temporada de 3 meses que estávamos rodando pela Europa. Vinhamos de Milão, Itália, onde fizemos algumas visitas profissionais e Renata ministrou um curso; Berlim, Alemanha, para algumas reuniões na chamada capital criativa da Europa; Reykjavik, Islândia, nosso momento turístico e Malmö, Suécia, onde participamos de uma conferência espetacular sobre criatividade chamada The Conference.
Assim como todas as outras cidades que passamos (com excessão da capital islandesa), não estaríamos em Lisboa somente a turismo. Fomos convidados para cobrir um congresso que naquela época ainda era desconhecido no Brasil, mas na Europa já era celebrado como um dos maiores eventos de tecnologia e inovação do mundo: o Web Summit.

Em sua segunda edição em terras portuguesas (o evento nasceu em 2012 na Irlanda e se mudou para Portugal em 2016), ele foi palco para grandes palestras, debates, workshops e feiras repletas das tradicionais novidades do universo tecnológico. Mas o mais interessante desse evento foram as discussões sobre o impacto disso tudo em nossas vidas. Especialistas dos mais variados ramos, políticos, empresários, acadêmicos e até celebridades estavam ali para discutir e ponderar sobre que tipo de futuro estamos a construir.
O bairro escolhido para sediar essa grande festa da criatividade e do empreendedorismo tecnológico foi o Parque das Nações, uma zona lisboeta hiper-moderna e de alto padrão, famosa por atrações como o Oceanário de Lisboa, a suntuosa Torre Vasco da Gama e a belíssima Estação Ferroviária do Oriente, projetada pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava.
Chegamos até a divulgar um pequeno teaser em vídeo de nossa passagem por lá:
Admito que, a princípio, ficamos surpresos em saber que Portugal sediaria um evento desse porte e ainda mais sobre esse tema. Não sabíamos que a sociedade portuguesa estava caminhando em direção a um ambiente aberto a criatividade e a inovação tecnológica. Pelo menos, não com tamanha disposição.
Como bisneto de português, sempre nutri um carinho especial pelo país e chegar a Portugal naquele momento reforçou essa admiração. Bem diferente do lugar que visitei pela primeira vez, há quase quinze anos, Portugal agora me parecia mais cosmopolita, vibrante e otimista.
Sim, o clima do evento ajudou muito nessa percepção, afinal ele se espalha além do Parque das Nações, atingindo diversos bairros da cidade de Lisboa. Uma estrutura de restaurantes, bares e baladas, todos com descontos e vantagens para quem participa do Web Summit, criam o ambiente perfeito para um grande happy hour.
Mas como não existe boa festa sem um bom anfitrião, tudo aquilo se mostrou ser um sintoma de algo maior. Realmente Portugal tinha entrado numa nova fase.
Agora mesmo, enquanto escrevo esse texto, soube que o país ainda mantém um crescimento acima da média da Europa, a frente até mesmo de pesos-pesados históricos como Alemanha e Reino Unido, fruto de medidas políticas e econômicas que o país tem adotado com considerável sucesso. A crise de 2010, que o colocou numa situação delicada na Comunidade Europeia, já começa a ser esquecida.
Mas, diante de tudo isso, uma pergunta ainda martelava nossa cabeça: como Portugal estaria conciliando todo esse novo dinamismo econômico, regado com muita tecnologia e inovação, ao seu tradicional estilo de vida tranquilo?
Uma das coisas que sempre me impressionou em Portugal é a capacidade de seu povo em apreciar as coisas simples da vida. Um povo que ainda ama ler seu jornal impresso pela manhã, enquanto toma seu café sentado a mesa de uma das inúmeras padarias que se encontram a cada quarteirão.
Um povo que não abre mão do seu horário do almoço, quase sempre acompanhado de uma boa taça de vinho.
Que adora jogar conversa fora nas praças e passear pelas ruas e parques.
Aqui vale uma observação: se engana quem acha que são apenas os velhinhos que adotam esse estilo. A sensação de segurança faz com que todos aproveitem os espaços públicos. O fenômeno bem europeu do slow lifestyle alcança aqui sua plenitude.
Uma das coisas que sempre me impressionou em Portugal é a capacidade de seu povo em apreciar as coisas simples da vida
Mas todo esse estilo de vida também fez do português um povo até certo ponto cético com a toda essa criatividade prolixa do mundo moderno. Isso tanto é verdade que ao analisar o impacto do Web Summit, o jornal Expresso, um dos maiores de Portugal, lembra que "empreendedorismo" e "charlatanismo" são muitas vezes sinônimos para grande parte do povo português. Ainda mais quando se trata do mundo digital.
O jornal ainda reforça que, em alguns aspectos, congressos como esses são vistos como clubes fechados de um grupo de fanáticos que acreditam na tecnologia como a salvadora da espécie humana. Uma espécie de Meca de uma nova religião.
Sei que muitos até podem virar os olhos e recorrer aos mais internalizados preconceitos sobre os portugueses para refutar tais visões, mas foi justamente esse ceticismo deles que despertou ainda mais o nosso fascínio. Onde alguns enxergam o atraso resistindo ao futuro, eu e a Renata vimos algo muito menos ingênuo e muito mais complexo.
A sociedade portuguesa definitivamente não quer ficar de fora dos avanços. A prova disso é que outros eventos menores influenciados pelo Web Summit e incubadoras de Startups pipocam por todas as principais cidades do país. A área de tecnologia é uma das que mais cresce. Além disso, culturalmente o país nunca esteve tão aberto a tudo de mais contemporâneo e inovador que acontece no cenário europeu e mundial.
Não é esse o ponto.
O que a sociedade portuguesa parece sinalizar é que dificilmente irá implantar todos esses avanços sem critérios ou necessidades reais, simplesmente porque é assim que tem que ser e ponto final. Que não será fácil engolirem a clássica visão determinista de quem acha que a tecnologia pode resolver todos os problemas do mundo, mesmo onde eles não existam.
Sei que como qualquer sociedade moderna, Portugal ainda tem muitos defeitos. A desigualdade social, mesmo longe de ser pornográfica como a brasileira, ainda é uma das maiores da Europa e sua dívida pública ainda se encontra em patamares altíssimos se comparada as de seus vizinhos. Isso tudo somado ao envelhecimento de sua população e a baixíssima taxa de natalidade já fizeram seus governantes acenderem a luz vermelha.


Mesmo assim, a impressão que tive ao acompanhar os noticiários é que qualquer discussão acerca do futuro de Portugal, seja ela mais a esquerda ou a direita, nunca deixa de fora os impactos sociais e ambientais, incluído aí o seu conquistado estilo de vida.
Dessa forma, a utopia de que a tecnologia pode trazer o aprimoramento daquilo que há de melhor na humanidade – inclusive, uma das premissas do Web Summit – nos parece estar mais próxima de Portugal do que de sociedades ultra-tecnológicas que vêem seus indices de depressão e ansiedade alcançarem níveis preocupantes.
Foi por tudo isso que, dois anos depois, aqui estamos novamente. Eu, Renata e o pequeno Pedro, agora correndo por todos os lados e falando pelos cotovelos.
Só que dessa vez para ficar mais tempo.
Acreditamos que esse momento que Portugal atravessa tem muitas semelhanças com a Laboota em seu estágio atual. Um processo de construção de algo que mais tem a ver com o aprendizado do que com alguma certeza absoluta.
Não viemos para cá impor, mas sim para observar e ouvir.

Assim como uma das missões da Web Summit é a busca por formas inovadoras de tornar a tecnologia mais humana, nós também queremos usar nossa capacidade de interpretar o mundo através de linguagens visuais para facilitar que a mensagem chegue a quem interessa, mas sem se esquecer que a finalidade disso é criar conexões entre as pessoas, nunca distanciamentos.
E, neste momento, Portugal é um dos melhores lugares para isso.
Mas estaremos no Brasil também, pois queremos continuar a contribuir - e retribuir - com o país onde construímos tudo que somos hoje.
Continuamos atendendo nossos clientes brasileiros com a mesma dedicação e entusiasmo de sempre, buscando as melhores formas e recursos de visualizar suas ideias.
Fala com a gente!